quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Bactérias causam prejuízos de milhões de dólares a citricultores

Doenças “amarelinho” e greening atacam grande parte dos pomares de laranja do Estado de São Paulo
por Karin Salomão
Fundecitrus
(Laranjeira com CVC ou "amarelinho". Doença causa prejuizo de US$ 100 milhões por ano)

Elas são minúsculas, invisíveis a olho nu. Mas causam prejuízos de milhões de dólares por ano ao citricultor. As doenças CVC (ou “amarelinho”) e Huanglongbing (HLB ou greening), causadas pelas bactérias Xylella fastidiosa e Candidatus Liberibacter americanus, respectivamente, não têm cura e geram prejuizos altíssimos ao agricultor.

Segundo dados do Fundecitrus, São Paulo possui aproximadamente 600 mil hectares destinados a citricultura, com aproximadamente 200 milhões de plantas. Destas, 40% apresentam sintomas de CVC e 6,9%, sintomas de greening. Dois terços dos pomares do Estado estão contaminados com a bactéria causadora de greening.

O CVC tem custo de manejo de 100 milhões de dólares por ano no Estado de São Paulo, entre perda de produtividade, plantar mudas novas, uso de pesticidas para acabar com o inseto vetor – a cigarrinha – e erradicação de plantas infectadas.

No caso do greening, já foram mais de 20 milhões de plantas erradicadas. “Porém não se sabe, ainda, o quanto isso significa em prejuízo total”, diz Marcos Machado, coordenador dos estudos sobre greening do Centro de Citricultura. “Como a doença é extremamente severa e mata a planta, a expectativa de prejuízo é muito maior [do que o prejuízo causado pelo CVC].”

Antônio Juliano Ayres, gerente de pesquisa e desenvolvimento do Fundecitrus, calcula que, fora o valor de frete, metade do custo da produção está ligado ao trato de doenças. Para ele, isso é algo muito grave pois, “apesar do Estado de São Paulo possuir condições extraordinárias para produção e ser o maior produtor do mundo, praticamente todas as doenças sérias estão presentes aqui na citricultura paulista”.

O CVC foi identificado pela primeira vez em 1987, no noroeste do estado de São Paulo. Desde então, a pesquisa avançou bastante em relação a suas causas e efeitos. A bactéria Xylella fastidiosa é transmitida pelo inseto cigarrinha e fica alojada no xilema da planta, vaso que carrega água e nutrientes. Lá, as bactérias se multiplicam e se unem, bloqueando a circulação do vaso. Por isso, a planta começa a amarelar; os sintomas foram, no passado, confundidos com seca. Enquanto no Brasil a bactéria ataca principalmente plantas cítricas, como laranjeiras, nos Estados Unidos acomete videiras. Ameixeiras e pés de café também são prejudicados por variações da bactéria.

O greening foi identificado em São Paulo apenas em 2004, apesar de já existirem ocorrências há mais de 100 anos, segundo Ayres, da Fundecitrus. As causas da doença ainda não estão plenamente comprovadas. Porém a bactéria impede o amadurecimento completo da planta, que continua verde, e causa perda de produtividade.

Pesquisas

Pesquisadores do Centro de Citricultura desenvolveram um aminoácido que pode diminuir a multiplicação da bactéria causadora do CVC. O aminoácido está em uso há quatro anos e não tem impacto ambiental. Também estão testando plantas melhoradas e mais resistentes, que estão sendo plantadas para avaliação do produtor.

Segundo o professor Paulo Zaini, do Instituto de Química da Universidade de São Paulo, já se avançou muito na pesquisa genética da bactéria Xylella fastidiosa. As pesquisas sobre os mecanismos de atuação da bactéria causadora do CVC também estão avançadas. O professor estuda uma proteína especifica, que permite à bactéria Xylella fastidiosa se grudar na parede do vaso e umas às outras.

A longo prazo, o plano é criar outra proteína que impeça a ação de adesão das bactérias. Apesar desse avanço nas pesquisas, o professor avalia que uma solução racional, que ataque diretamente a bactéria, ainda demore de 10 a 15 anos.

Controle

Enquanto diversos cientistas estudam ações para combater diretamente a bactéria, o controle da doença ainda é feito principalmente pelo citricultor. É importante usar mudas sadias, cultivadas em estufas controladas. Além disso, o controle do vetor por meio de pesticidas aplicados nas bordas dos pomares também é recomendado. Por fim, é necessário fazer inspeções constantes, ao menos quatro por ano. Ao encontrar uma planta adulta com sintomas de CVC, o galho pode ser podado. No caso de plantas jovens ou mudas, devem ser eliminadas. Ao identificar uma planta com sintomas de greening, ela também deve ser erradicada.

Fonte: Revista Globo Rural

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